quarta-feira, 30 de julho de 2014

Proibido de exercer profissão, médico é preso em consultório

No receituário constam informações falsas sobre integrar importantes entidades de Ortopedia

Reportagem de: FRANCISCO EDSON ALVES E HILKA TELLES

Mesmo com o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro em 5 de junho por erro médico, que levou à morte um homem de 37 anos depois de cirurgia na coluna, o ortopedista Fernando Cesar Lamy Monteiro da Silva continuava exercendo a profissão, como se nada tivesse acontecido. O médico foi detido, nesta segunda-feira, em seu consultório, em Vila Valqueire, por policiais da 26ª DP (Todos os Santos). Computadores e documentos foram apreendidos.
Ele vai responder em liberdade por exercício ilegal da profissão. O advogado do médico, João Carlos Ferreira, disse que só falará do assunto após tomar conhecimento dos fatos. Nos documentos que integram o processo contra ele no Cremerj e o inquérito da 26ª DP, há relatos sobre mais quatro pessoas que morreram após ser operadas por Lamy e de outras cinco que ficaram com sequelas graves, algumas irreversíveis. 

Na segunda-feira, dia 21, repórteres do DIA estiveram no consultório de Fernando Cesar Lamy para uma consulta marcada na quinta-feira da semana anterior. O médico indicou exame a ser feito, receitou remédios, determinou o uso imediato de cinta e explicou nova técnica de cirurgia na coluna, sem corte. “São apenas seis furos com uma agulha, para reidratar o disco da coluna”, disse.

No receituário de Lamy, o cabeçalho informa que ele é titular de quatro entidades. Mas em pelo menos emtrês delas a informação é falsa: as sociedades brasileiras de cirurgia na coluna, no joelho e minimamente invasiva. Só não foi possível conferir a indicação da Academia Americana de Ortopedia.
Para destacar sua importância, contou ter operado um ministro da Agricultura do Brasil, sem citar nome, num hospital nos EUA, e afirmou que o ex-presidente Lula intercedeu para que ele e outro médico trouxessem para o país a técnica da cirurgia. “Um funcionário da Anvisa queria R$ 50 milhões para liberar (...) mas o Lula abriu para nós (...) e o funcionário foi demitido”, gabava-se.

Carimbos falsos
O ortopedista também é acusado de usar carimbos e falsificar assinaturas de médicos para preencher formulários exigidos em cirurgias, como se os profissionais tivessem auxiliado nos procedimentos. Pelo menos dois deles foram identificados: Antônio Carlos dos Santos Júnior e Marcos Bettini Pitombo, que negaram qualquer participação em equipe de Lamy. Uma instrumentadora conta em depoimento que ele também usava carimbos de médicos já falecidos. 
O caso que levou à cassação de Fernando Cesar Lamy pelo Cremerj — a decisão foi encaminhada ao Conselho Federal de Medicina para ser referendada — é o do analista de sistemas Marcelo Gonçalves Costa, 37 anos, que morreu em julho de 2012 de hipovolemia (perda de grande quantidade de sangue) e infarto, segundo o atestado de óbito assinado por Lamy e endossado pela médica Luciana Lima Diniz, do Hospital Copa D’Or, local da cirurgia. 
Estranho é que, no resultado do exame de corpo de delito, consta a presença de hematoma em regiões posteriores do hemisfério cerebral direito e do cerebelo. Exame complementar atesta que Marcelo morreu de edema cerebral e edema nos pulmões, derivado de coronarioesclerose (bloqueio das artérias coronárias por gordura). “É muito suspeito. Não havia hematomas na cabeça do meu marido. Ele levava vida saudável”, questiona Susan Christie dos Santos de Oliveira, 34 anos, viúva de Marcelo.

Fonte: O Dia - Rio